O COLABORADOR
Ana e eu fomos terminar de colher o café Bourbon Amarelo. Esses últimos galhos estavam muito altos. Ana usava um cortador de cabo longo para alcançá-los. Em determinado momento esbarrou na câmera de monitoramento, que desceu um metro e meio, ficando dependurada pelo fio. A altura normal desse equipamento é de três metros. O dia estava acabando e a escuridão começava a dificultar nossas ações. Mesmo assim, resolvemos buscar a escada dobrável de 12 degraus para tentar resolver o problema. A escada é de ferro, pesada e tem umas travas difíceis para mulheres manuseá-la. Exigem esforço, habilidade e conhecimento do mecanismo do equipamento, o que é raro nas mulheres. Estávamos ali fuçando na escada por teimosia, quando veio se aproximando um homem de cerca de 40 anos. Percebendo a nossa confusão, imediatamente se ofereceu para ajudar. Terminou de abrir a escada, subiu até onde era necessário para tentar uma solução, mas avisou que estava com um dedo quebrado. sentindo dor. Então busquei uma fita crepe e pedi que ele apenas subisse a câmera e a prendesse no local, para que eu pudesse avisar ao técnico no dia seguinte.
Quando ele desceu, percebi que sua mão estava inchada e que ele deveria estar sentindo muita dor. Ofereci um analgésico e uma faixa de imobilização, mas ele informou que já havia tomado analgésico e que ao amanhecer voltaria ao hospital para novo atendimento. Foi embora. Fiquei pensando sobre a dor daquele homem suave, prestativo, de poucas palavras.
Ana o definiu como "morador de rua", Não sei se está certa. Mas se assim for, é um ser humano merecedor de respeito e solidariedade.
Hoje, cinco dias depois, eu vinha da padaria e o encontrei novamente. No primeiro momento não o reconheci. Ele disse: "ficou bom o serviço na câmera". Aí me toquei.
Renovei o agradecimento, pedi desculpas pelo trabalho em condições difíceis e perguntei sobre sua fratura. Ele disse que continua tomando analgésicos e que amanhã irão engessar sua mão lá no hospital.
Bsb, 01/06/2025